quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Artigo Científico 1: Asma em Pediatria

             O conceito de asma vem mudando e evoluindo ao longo do tempo1. Atualmente, a Asma é considerada uma doença crônica das vias aéreas pulmonares, resultando em obstrução episódica ao fluxo aéreo2, podendo ser considerada também como uma desordem heterogênea ou uma síndrome cujos sintomas ocorrem por obstrução variável ao fluxo aéreo intrapulmonar1,2. A inflamação crônica resultante eleva a contratilidade das vias aéreas, o que pode ser entendido como hiperresponsividade das mesmas vias aéreas à exposição de agentes irritantes2 (e este pode ser compreendido como o conceito de auto- e hetero-intoxicação crônica psórica3). O diagnóstico da Asma depende do conceito que se tem da doença1; sob o ponto de vista das doenças crônicas (miasmas ou diáteses), ela pode ser uma manifestação de um destes distúrbios4,5, quando se considerando o indivíduo; hoje, comprova-se que a predisposição biológica e genética tem papel para a etiologia das manifestações da síndrome, havendo mais de 100 loci gênicos associados à asma2.  

            Hahnemann se refere à asma no seu tempo, no escopo do Organon, como um dos males resultantes de miasma ou diátese crônica, no que se refere à Psora interna, por exemplo, nos parágrafos §80 (descrevendo a Psora): “...a Psora, a única causa fundamental real, produtora de todas as demais numerosas outras, direi mesmo incontáveis, formas de moléstia, que com os nomes de ... asma e úlcera pulmonar...”; §205 (do tratamento de sintomas externos, em nota): “...mesmo que esse remédio livre a parte do corpo localmente da úlcera maligna, a moléstia básica não é por isso o mínimo diminuída de forma alguma, sendo necessário que a força vital transfira o campo de operação da grande moléstia interna para alguma parte mais nobre... e a consequência é a cegueira, surdez, loucura, asma sufocante...”; e no §285 (supressão de sintomas externos e cura de males antigos): “...Após um breve período de bem-estar, o príncipio vital permitia que o mal interno, não curado, retornasse em outra parte... seguiam-se a loucura ou asma sufocante...”4. Hahnemann reforça o conceito da asma como manifestação da Psora latente no Tratado das Doenças Crônicas, bem como descreve casos5.

            O controle e tratamento vigente para a asma passam pelo monitoramento regular, educação do paciente e família, controle dos fatores externos ambientais agravantes, bem como comorbidades, e finalmente, o uso de terapia farmacológica como corticoides, orais ou inalatórios, β2-agonistas, agentes modificadores de leucotrieno (montelucaste), entre outros2.

            Diante da conceituação exposta, fazemos uma rápida análise de um artigo republicado na Revista de Homeopatia em 2019, mostrando a evolução de crianças asmáticas com tratamento homeopático, por Bearzi G, et al6, e mostrando que a homeopatia é usada para casos da síndrome. Não é nossa intenção, nem temos a pretensão de avaliar ou criticar o digno trabalho publicado, mas meramente para fins de estudo, discussão do tema e divulgação da Ciência em Homeopatia. O artigo na íntegra pode ser encontrado na base de dados BVS homeopatia (homeopatia.bvs.br).

            Trata-se de estudo prospectivo, o qual avaliou 43 casos atendidos pela Associação Paulista de Homeopatia, em 1985. Foram incluídos no estudo os pacientes até 12 anos de idade, com história de no mínimo três episódios de broncoespasmo (Asma), que mantiveram observação por quatro a nove meses, tratados ou não com medicação alopática anteriormente. Dos casos captados no período do estudo (março a agosto daquele ano), foram elegíveis 43 pacientes, sendo para estes avaliados os fatores psíquicos, físicos, climáticos, a intensidade e a frequência das crises antes e após o tratamento. Foi realizada análise estatística, com teste de X² e valor p<0,05 como significância.

            A prescrição homeopática foi baseada no medicamento de fundo, nos agudos quando necessário e em nosódios caso fosse possível. Quando comparados os fatores desencadeantes da crise asmática (divididos em climáticos, psíquicos ou físicos), os fatores climáticos representaram 41,1% (n=28) sob os demais, no entanto, mediante o teste de qui quadrado, não houve diferença estatística entre os três tipos de fatores estressantes (X²= 2,68, p >0,05), concluindo os autores que nenhum tipo de fator teve importância sobre o outro. Contudo, dentro dos fatores físicos, a sensibilidade ao pó doméstico (40%, n=14) teve significância (X² = 12,29, p< 0,05) e para os fatores climáticos, a mudança de tempo (52,3%, n=23) em relação ao frio (27,3%, n=12) também teve importância (X2 = 58,18, p< 0,05). Os autores referem a importância de considerar os referidos fatores na repertorização homeopática, bem como o uso de nosódios.

                Foram avaliadas também a evolução das crises de asma, sendo de notar que 95,3% das crises antes do início do tratamento apresentaram intensidade moderada ou grave; após o período do tratamento, 67,4% dos casos passaram a não ter mais crises, com 25,5% apresentando crises leves, também com relevância significativa (X² = 68,05, p< 0,05). A frequência das crises também reduziu após o tratamento: antes, em 69,7% dos casos eram diárias ou mensais, permanecendo 67,5% dos pacientes assintomáticos depois do período do tratamento (X² = 51,97, p< 0,05).

                O estudo sintetiza o modo prescritivo homeopático em vigência de casos de asma, sendo um artigo interessante para estudo do ponto de vista da Homeopatia.

           

            Referências:

1.      Moral L, et al. Asthma diagnosis in infants and preschool children: a systematic review of clinical guidelines. Allergol Immunopathol (Madr). 2019 Mar-Apr;47(2):107-121.

2.      Liu AH, Covar RA, Spahn JD, Leung DYM. Asma Infantil. Em: Kliegman RM, Stanton BF, St Geme JW, Schor NF, Behrman RE, editores. Nelson Tratado de Pediatria. Tradução da 19ªedição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 780-801.

3.      Carillo Jr R. Fundamentos de Homeopatia Constitucional. Morfologia, Fisiologia e Fisiopatologia Aplicadas à Clínica. Livraria Santos, 1997.

4.      Hahnemann S. Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª Edição Brasileira, 2013.

5.      Hahnemann S. Doenças Crônicas: Sua Natureza Peculiar e Sua Cura Homeopática.  Tradução da 2ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 7ª Edição Brasileira, 2014.

6.      Bearzi G, et al. Evolução de crianças asmáticas com tratamento homeopático. Revista de Homeopatia 1989;54(2):42-44. Republicado de Revista de Homeopatia 2019; 82 (3/4): 42-45.

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