O conceito de asma vem mudando e evoluindo ao longo do tempo1. Atualmente, a Asma é considerada uma doença crônica das vias aéreas pulmonares, resultando em obstrução episódica ao fluxo aéreo2, podendo ser considerada também como uma desordem heterogênea ou uma síndrome cujos sintomas ocorrem por obstrução variável ao fluxo aéreo intrapulmonar1,2. A inflamação crônica resultante eleva a contratilidade das vias aéreas, o que pode ser entendido como hiperresponsividade das mesmas vias aéreas à exposição de agentes irritantes2 (e este pode ser compreendido como o conceito de auto- e hetero-intoxicação crônica psórica3). O diagnóstico da Asma depende do conceito que se tem da doença1; sob o ponto de vista das doenças crônicas (miasmas ou diáteses), ela pode ser uma manifestação de um destes distúrbios4,5, quando se considerando o indivíduo; hoje, comprova-se que a predisposição biológica e genética tem papel para a etiologia das manifestações da síndrome, havendo mais de 100 loci gênicos associados à asma2.
Hahnemann se refere à asma no seu
tempo, no escopo do Organon, como um
dos males resultantes de miasma ou diátese crônica, no que se refere à Psora
interna, por exemplo, nos parágrafos §80 (descrevendo a Psora): “...a Psora, a única causa fundamental real,
produtora de todas as demais numerosas outras, direi mesmo incontáveis, formas
de moléstia, que com os nomes de ... asma e úlcera pulmonar...”; §205 (do
tratamento de sintomas externos, em nota): “...mesmo
que esse remédio livre a parte do corpo localmente da úlcera maligna, a
moléstia básica não é por isso o mínimo diminuída de forma alguma, sendo
necessário que a força vital transfira o campo de operação da grande moléstia
interna para alguma parte mais nobre... e a consequência é a cegueira, surdez,
loucura, asma sufocante...”; e no §285 (supressão de sintomas externos e
cura de males antigos): “...Após um breve
período de bem-estar, o príncipio vital permitia que o mal interno, não curado,
retornasse em outra parte... seguiam-se a loucura ou asma sufocante...”4. Hahnemann reforça o conceito da asma
como manifestação da Psora latente no Tratado das Doenças Crônicas, bem como descreve casos5.
O controle e tratamento vigente para
a asma passam pelo monitoramento regular, educação do paciente e família,
controle dos fatores externos ambientais agravantes, bem como comorbidades, e
finalmente, o uso de terapia farmacológica como corticoides, orais ou
inalatórios, β2-agonistas, agentes modificadores de leucotrieno (montelucaste),
entre outros2.
Diante da conceituação exposta, fazemos
uma rápida análise de um artigo republicado na Revista de Homeopatia em 2019, mostrando a evolução de crianças
asmáticas com tratamento homeopático, por Bearzi G, et al6, e
mostrando que a homeopatia é usada para casos da síndrome. Não é nossa
intenção, nem temos a pretensão de avaliar ou criticar o digno trabalho
publicado, mas meramente para fins de estudo, discussão do tema e divulgação da
Ciência
em Homeopatia. O artigo na íntegra pode ser encontrado na base de dados
BVS homeopatia (homeopatia.bvs.br).
Trata-se de estudo prospectivo, o
qual avaliou 43 casos atendidos pela Associação
Paulista de Homeopatia, em 1985. Foram incluídos no estudo os pacientes até
12 anos de idade, com história de no mínimo três episódios de broncoespasmo
(Asma), que mantiveram observação por quatro a nove meses, tratados ou não com
medicação alopática anteriormente. Dos casos captados no período do estudo
(março a agosto daquele ano), foram elegíveis 43 pacientes, sendo para estes
avaliados os fatores psíquicos, físicos, climáticos, a intensidade e a
frequência das crises antes e após o tratamento. Foi realizada análise
estatística, com teste de X² e valor p<0,05 como significância.
A prescrição homeopática foi baseada
no medicamento de fundo, nos agudos quando necessário e em nosódios caso fosse
possível. Quando comparados os fatores desencadeantes da crise asmática (divididos
em climáticos, psíquicos ou físicos), os fatores climáticos representaram 41,1%
(n=28) sob os demais, no entanto, mediante o teste de qui quadrado, não houve
diferença estatística entre os três tipos de fatores estressantes (X²= 2,68, p
>0,05), concluindo os autores que nenhum tipo de fator teve importância
sobre o outro. Contudo, dentro dos fatores físicos, a sensibilidade ao pó
doméstico (40%, n=14) teve significância (X² = 12,29, p< 0,05) e para
os fatores climáticos, a mudança de tempo (52,3%, n=23) em relação ao frio (27,3%,
n=12) também teve importância (X2 = 58,18, p< 0,05). Os autores
referem a importância de considerar os referidos fatores na repertorização
homeopática, bem como o uso de nosódios.
Foram
avaliadas também a evolução das crises de asma, sendo de notar que 95,3% das
crises antes do início do tratamento apresentaram intensidade moderada ou
grave; após o período do tratamento, 67,4% dos casos passaram a não ter mais
crises, com 25,5% apresentando crises leves, também com relevância
significativa (X² = 68,05, p< 0,05). A frequência das crises também reduziu
após o tratamento: antes, em 69,7% dos casos eram diárias ou mensais, permanecendo
67,5% dos pacientes assintomáticos depois do período do tratamento (X² = 51,97,
p< 0,05).
O
estudo sintetiza o modo prescritivo homeopático em vigência de casos de asma,
sendo um artigo interessante para estudo do ponto de vista da Homeopatia.
Referências:
1.
Moral L, et al. Asthma diagnosis in infants and preschool
children: a systematic review of clinical guidelines. Allergol Immunopathol
(Madr). 2019 Mar-Apr;47(2):107-121.
2.
Liu AH, Covar
RA, Spahn JD, Leung DYM. Asma Infantil. Em: Kliegman RM, Stanton BF, St Geme
JW, Schor NF, Behrman RE, editores. Nelson Tratado de Pediatria. Tradução da
19ªedição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 780-801.
3.
Carillo Jr R.
Fundamentos de Homeopatia Constitucional. Morfologia, Fisiologia e
Fisiopatologia Aplicadas à Clínica. Livraria Santos, 1997.
4.
Hahnemann S.
Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª
Edição Brasileira, 2013.
5.
Hahnemann S.
Doenças Crônicas: Sua Natureza Peculiar e Sua Cura Homeopática. Tradução da 2ª Edição alemã. GEHSP Benoit
Mure; 7ª Edição Brasileira, 2014.
6.
Bearzi G, et
al. Evolução de crianças asmáticas com tratamento homeopático. Revista de
Homeopatia 1989;54(2):42-44. Republicado de Revista de Homeopatia 2019; 82
(3/4): 42-45.
👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMuito bom!
Muito obrigado! Que possamos estudar ainda mais.
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