sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Artigo Científico 3: Vitiligo II

Figura evidenciando vitiligo antes (A,B) e durante tratamento homeopático (C,D). Encontra-se em:
Mahesh S et al. Homeopathic Treatment of Vitiligo: A Report of Fourteen Cases. Am J Case Rep 2017;18: 1276-1283. 


O Vitiligo é uma desordem de pigmentação da pele na qual as células produtoras de pigmento, os melanócitos, ou são destruídos ou têm baixa funcionalidade, por diferentes razões1,2, conforme referido no último post neste sítio. 

Múltiplos fatores podem contribuir para a manifestação do vitiligo, como os fatores genéticos e de herança familiar (também discutido no último post, e em conjunto com um comentário de Hahnemann acerca do miasma hereditário3), nutricionais, hormonais, emocionais e físicos1. Carillo Jr desenvolveu a explanação do miasma psórico (ou diátese) com base na auto- e hetero-intoxicações crônicas, quais sejam, verbi gratia, sedentarismo e alimentação inadequada, excesso de álcool, paixões desregradas, emoções persistentes e ainda a biotipologia agravante4, o que vem igualmente a corroborar com os achados sob a gênese do vitiligo na medicina atual. Ainda, no estudo diatésico, o mesmo autor vem a acrescentar que fatores inflamatórios sub-agudos ou crônicos determinam processo irritativo com ulcerações e escleroses, processo característico da diátese sifilínica (tríade fisiopatológica: irritação, ulceração e esclerose)4, fenômenos que podem ser encontrados no estudo da gênese do vitiligo com a desordem de melanócitos (teorias citotóxicas, neurais, genéticas, que sugerem a auto-destruição de melanóticos)1.

No último post, mostramos uma série de casos de tratamento de vitiligo com Homeopatia2, para um dos quais reproduzimos a imagem acima, por Mahesh S et al. Agora trazemos um estudo para discutir os efeitos da medicação ultra-diluída homeopática in vitro, mostrando ensaios laboratoriais com Homeopatia. Munshi R et al.1, analisaram os efeitos de 4 substâncias ultra-diluídas: peróxido de hidrogênio (HP), ácido Kojic (KA), 6-Biopterina (BP) e hormônio α-estimulador de melanócitos (NLEα). Os três primeiros sabidamente exibem atividade melano-destrutiva, sendo o KA inibidor da atividade da tirosinase, enzima essencial para a produção de melanina, e assim foram escolhidos segundo a Lei dos Semelhantes3.  O quarto componente, o NLEα, é um estimulador de melanócitos.

As substâncias foram ultra-diluídas segundo a escala centesimal até 30CH, aplicadas em meios de cultura celular, tratados adequadamente, e ainda foram estabelecidos controles: dois com álcool e um sem tratamento de cultura celular, prosseguindo análise estatística com valor p significativo a partir de <0,05. Os resultados foram avaliados e comparados para cada grupo nos intervalos de 48 e 96 horas de incubação1.

Em 48 horas: os preparados homeopáticos não evidenciaram efeito citotóxico e o conteúdo de melanina foi significativamente maior para NLE (p=0,015) e HP (p=0,039), quando comparado aos controles. Já em 96 horas: não houve efeito citotóxico, não houve mudança no conteúdo de melanina. No estudo, os preparados demonstraram inibição de tirosinase similar (em média 20%, incluindo os controles, com KA 41%)1.  

Na discussão, os autores lembram que medicações potencializadas a 30CH são questionadas nos efeitos biológicos; no entanto, o estudo evidenciou efeitos melanogênicos em dois preparados homeopáticos (NLE e HP) potencializados, ainda que o mecanismo para NLE não seja totalmente de acordo com a similitude fisiopatológica.

Um pequeno estudo, mostrando mudanças também in vitro de medicações dinamizadas.

Referências:

1.      Munshi R, Joshi S, Talele G, Shah R. An In-Vitro Assay Estimating Changes in Melanin Content of Melanoma Cells due to Ultra-Dilute, Potentized Preparations. Homeopathy. 2019 Aug;108(3):183-187.

2.      Mahesh S, Mallappa M, Tsintzas D, Vithoulkas G. Homeopathic Treatment of Vitiligo: A Report of Fourteen Cases. Am J Case Rep 2017;18: 1276-1283.   

3.      Hahnemann S. Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª Edição Brasileira, 2013.

4.      Carillo Jr R. Fundamentos de Homeopatia Constitucional. Morfologia, Fisiologia e Fisiopatologia Aplicadas à Clínica. Livraria Santos, 1997.


sábado, 19 de dezembro de 2020

Artigo Científico 2: Vitiligo

 


Vitiligo é uma condição autoimune adquirida caracterizada pela destruição dos melanócitos epidérmicos, o que acarreta perda de pigmentação na pele1. Sua prevalência global é estimada em torno de 1%, mas em determinados grupos populacionais pode chegar até 3%, com impacto sócio-psicológico, particularmente para pessoas com pele escura1. Acredita-se que múltiplos genes de resposta imunológica estão envolvidos na gênese da síndrome, que pode ser iniciada por estresse oxidativo e mediada por células T, além de citocinas como o fator de necrose tumoral alfa (TNFα), Interleucina 1 alfa (IL1α), proteína de choque 70 (Hsp70), dentre outras1. Em 2011, o vitiligo foi classificado em segmentar e não-segmentar, de acordo com as áreas afetadas2.

O tratamento objetiva qualidade de vida, cessação da progressão da doença e re-pigmentação cutânea, embora as opções atualmente sejam limitadas, sem estudos que corroborem clara efetividade no longo prazo1. Consistem em corticoesteróides tópicos ou sistêmicos, inibidores de calcineurina tópicos, fototerapia, técnicas de enxertia cirúrgica e despigmentação2.

            O caráter genético atualmente discutido para a síndrome em questão e muitas outras já era defendido, como existência e persistência de miasma hereditário, por Hahnemann3,4, como quando se refere ao estudo das doenças crônicas, em particular da Psora, no §81 do Organon: “O fato de que este agente infeccioso muito antigo tem passado gradativamente, por centenas de gerações...”3.

Trazemos para discussão, sempre apenas com o objetivo de exposição e divulgação científicas, o estudo de Mahesh S et al.1, apresentando uma série de 14 casos de vitiligo tratados com homeopatia, dos quais 13 eram mulheres, com mediana de idade de 29,8 anos, sendo três meninas escolares e seguimento clínico por 58 meses1. Os autores informam que, dos pacientes que iniciaram tratamento em estágios iniciais, as lesões se recuperaram, enquanto os demais apresentavam lenta recuperação com resposta em outros distúrbios de saúde1. Ainda, quanto maior o tempo entre a apresentação da doença e o início do tratamento, mais dificultada foi a resposta clínica1. Os autores mostram fotos, que podem ser apreciadas em seu artigo, as quais evidenciam a evolução clínica favorável dos casos.

O longo estresse psicológico pode estar envolvido no início e progressão da doença1, e esses fatores são levados em consideração na prescrição homeopática. Apesar do vitiligo ser uma doença primária autoimune da pele, os pacientes podem ter envolvimento de outros sistemas, conforme análise dos casos com prescrição homeopática individualizada1.

Os autores concluem que são necessários mais estudos na área, mas acreditam ser a medicação homeopática mais benéfica nos estágios iniciais da doença1.

                       

Referências:

1.      Mahesh S, Mallappa M, Tsintzas D, Vithoulkas G. Homeopathic Treatment of Vitiligo: A Report of Fourteen Cases. Am J Case Rep 2017;18: 1276-1283.   

2.      Bergqvist C, Ezzedine K. Vitiligo: A Review. Dermatology. 2020;236(6):571-592. 

3.      Hahnemann S. Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª Edição Brasileira, 2013.

4.      Hahnemann S. Doenças Crônicas: Sua Natureza Peculiar e Sua Cura Homeopática.  Tradução da 2ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 7ª Edição Brasileira, 2014.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Artigo Científico 1: Asma em Pediatria

             O conceito de asma vem mudando e evoluindo ao longo do tempo1. Atualmente, a Asma é considerada uma doença crônica das vias aéreas pulmonares, resultando em obstrução episódica ao fluxo aéreo2, podendo ser considerada também como uma desordem heterogênea ou uma síndrome cujos sintomas ocorrem por obstrução variável ao fluxo aéreo intrapulmonar1,2. A inflamação crônica resultante eleva a contratilidade das vias aéreas, o que pode ser entendido como hiperresponsividade das mesmas vias aéreas à exposição de agentes irritantes2 (e este pode ser compreendido como o conceito de auto- e hetero-intoxicação crônica psórica3). O diagnóstico da Asma depende do conceito que se tem da doença1; sob o ponto de vista das doenças crônicas (miasmas ou diáteses), ela pode ser uma manifestação de um destes distúrbios4,5, quando se considerando o indivíduo; hoje, comprova-se que a predisposição biológica e genética tem papel para a etiologia das manifestações da síndrome, havendo mais de 100 loci gênicos associados à asma2.  

            Hahnemann se refere à asma no seu tempo, no escopo do Organon, como um dos males resultantes de miasma ou diátese crônica, no que se refere à Psora interna, por exemplo, nos parágrafos §80 (descrevendo a Psora): “...a Psora, a única causa fundamental real, produtora de todas as demais numerosas outras, direi mesmo incontáveis, formas de moléstia, que com os nomes de ... asma e úlcera pulmonar...”; §205 (do tratamento de sintomas externos, em nota): “...mesmo que esse remédio livre a parte do corpo localmente da úlcera maligna, a moléstia básica não é por isso o mínimo diminuída de forma alguma, sendo necessário que a força vital transfira o campo de operação da grande moléstia interna para alguma parte mais nobre... e a consequência é a cegueira, surdez, loucura, asma sufocante...”; e no §285 (supressão de sintomas externos e cura de males antigos): “...Após um breve período de bem-estar, o príncipio vital permitia que o mal interno, não curado, retornasse em outra parte... seguiam-se a loucura ou asma sufocante...”4. Hahnemann reforça o conceito da asma como manifestação da Psora latente no Tratado das Doenças Crônicas, bem como descreve casos5.

            O controle e tratamento vigente para a asma passam pelo monitoramento regular, educação do paciente e família, controle dos fatores externos ambientais agravantes, bem como comorbidades, e finalmente, o uso de terapia farmacológica como corticoides, orais ou inalatórios, β2-agonistas, agentes modificadores de leucotrieno (montelucaste), entre outros2.

            Diante da conceituação exposta, fazemos uma rápida análise de um artigo republicado na Revista de Homeopatia em 2019, mostrando a evolução de crianças asmáticas com tratamento homeopático, por Bearzi G, et al6, e mostrando que a homeopatia é usada para casos da síndrome. Não é nossa intenção, nem temos a pretensão de avaliar ou criticar o digno trabalho publicado, mas meramente para fins de estudo, discussão do tema e divulgação da Ciência em Homeopatia. O artigo na íntegra pode ser encontrado na base de dados BVS homeopatia (homeopatia.bvs.br).

            Trata-se de estudo prospectivo, o qual avaliou 43 casos atendidos pela Associação Paulista de Homeopatia, em 1985. Foram incluídos no estudo os pacientes até 12 anos de idade, com história de no mínimo três episódios de broncoespasmo (Asma), que mantiveram observação por quatro a nove meses, tratados ou não com medicação alopática anteriormente. Dos casos captados no período do estudo (março a agosto daquele ano), foram elegíveis 43 pacientes, sendo para estes avaliados os fatores psíquicos, físicos, climáticos, a intensidade e a frequência das crises antes e após o tratamento. Foi realizada análise estatística, com teste de X² e valor p<0,05 como significância.

            A prescrição homeopática foi baseada no medicamento de fundo, nos agudos quando necessário e em nosódios caso fosse possível. Quando comparados os fatores desencadeantes da crise asmática (divididos em climáticos, psíquicos ou físicos), os fatores climáticos representaram 41,1% (n=28) sob os demais, no entanto, mediante o teste de qui quadrado, não houve diferença estatística entre os três tipos de fatores estressantes (X²= 2,68, p >0,05), concluindo os autores que nenhum tipo de fator teve importância sobre o outro. Contudo, dentro dos fatores físicos, a sensibilidade ao pó doméstico (40%, n=14) teve significância (X² = 12,29, p< 0,05) e para os fatores climáticos, a mudança de tempo (52,3%, n=23) em relação ao frio (27,3%, n=12) também teve importância (X2 = 58,18, p< 0,05). Os autores referem a importância de considerar os referidos fatores na repertorização homeopática, bem como o uso de nosódios.

                Foram avaliadas também a evolução das crises de asma, sendo de notar que 95,3% das crises antes do início do tratamento apresentaram intensidade moderada ou grave; após o período do tratamento, 67,4% dos casos passaram a não ter mais crises, com 25,5% apresentando crises leves, também com relevância significativa (X² = 68,05, p< 0,05). A frequência das crises também reduziu após o tratamento: antes, em 69,7% dos casos eram diárias ou mensais, permanecendo 67,5% dos pacientes assintomáticos depois do período do tratamento (X² = 51,97, p< 0,05).

                O estudo sintetiza o modo prescritivo homeopático em vigência de casos de asma, sendo um artigo interessante para estudo do ponto de vista da Homeopatia.

           

            Referências:

1.      Moral L, et al. Asthma diagnosis in infants and preschool children: a systematic review of clinical guidelines. Allergol Immunopathol (Madr). 2019 Mar-Apr;47(2):107-121.

2.      Liu AH, Covar RA, Spahn JD, Leung DYM. Asma Infantil. Em: Kliegman RM, Stanton BF, St Geme JW, Schor NF, Behrman RE, editores. Nelson Tratado de Pediatria. Tradução da 19ªedição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 780-801.

3.      Carillo Jr R. Fundamentos de Homeopatia Constitucional. Morfologia, Fisiologia e Fisiopatologia Aplicadas à Clínica. Livraria Santos, 1997.

4.      Hahnemann S. Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª Edição Brasileira, 2013.

5.      Hahnemann S. Doenças Crônicas: Sua Natureza Peculiar e Sua Cura Homeopática.  Tradução da 2ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 7ª Edição Brasileira, 2014.

6.      Bearzi G, et al. Evolução de crianças asmáticas com tratamento homeopático. Revista de Homeopatia 1989;54(2):42-44. Republicado de Revista de Homeopatia 2019; 82 (3/4): 42-45.

sábado, 5 de dezembro de 2020

"Homeopatia encara os Horrores da Alopatia"


            A tela reproduzida sob o cabeçalho do blog recebe, hoje, o título de "Homeopathy looks at the Horrors of Allopathy", e tem autoria de Alexander Egorovich Beideman, artista, professor e acadêmico russo1. Dizemos hoje, porque no século 19 recebia o título de "Triunfo da Homeopatia"2

Isto vem a título de curiosidade, com parte do conteúdo encontrado facilmente na Internet, em particular na Wikipedia, apenas como pano de fundo para o desenvolver de nosso desnudo sob a pintura; mas a tela em questão encontra-se na galeria de Artes russa em Moscou, Tretyakov, e foi concebida na cidade de Munique em 1857, solicitada à pedido do pai de Nicholas Gabrielovich, homeopata russo. Foi adquirida por Tretyakov antes de 1893. Em novembro de 2015, houve uma exposição organizada da pintura em conjunto com a conferência "Arte na homeopatia e homeopatia na arte"2.

Do ponto de vista acadêmico, a pintura é uma crítica ferrenha à medicina convencional da época, que frequentemente usava de métodos ditos derivativos, como vomitivos, exutórios, sudoríficos, purgativos, vesicatórios, etc, visando expulsar do corpo aquilo que seria matéria morbífica; de outras vezes usava métodos antagonistas estimulantes, como nauseantes, jejuns prolongados, emissões sanguíneas, meios que excitem dor e inflamação, como cautérios, ferro em brasa, vesicatórios, etc3. O método de Broussais3,4 (médico ateu e dogmático)chamado de medicina fisiológica na época, tinha como base inflamações que adviriam de qualquer estimulação, principalmente do trato digestivo, e prescrevia como tratamento poderosos anti-flogísticos, sangramentos (sanguessugas, modos de sangria, etc) e regimes debilitantes4. Conforme descreve Hahnemann no §60 do Organon: "Assim milhares de médicos foram miseravelmente induzidos... a fazer jorrar do coração frio o sangue quente de seus doentes"3.

Na tela, ao canto superior direito, está representada a ala "positiva": a Homeopatia voa nas nuvens, à sua frente, em manto vermelho, Esculápio, tendo a cobra na mão direita e a mão esquerda erguida em indignação; atrás do deus da Medicina, Atena, deusa protetora das ciências, e ao canto direito, Samuel Hahnemann. Todos olham com desaprovação para o lado "negativo" da pintura: um doente agonizante e médicos lhe decepando a perna, enquanto esposa e filhos do doente soluçam. À porta do aposento, a Morte espreita1.

Eis um pequeno esboço sob como a ciência pode ser representada na Arte.

Referências:

1.      Wikipedia contributors. "Homeopathy Looks at the Horrors of Allopathy." Wikipedia, The Free Encyclopedia. Wikipedia, The Free Encyclopedia, 1 Jul. 2020. Web. 5 Dec. 2020.

2.      Wikipedia contributors. " Beideman, Alexander Egorovich." Wikipedia, The Free Encyclopedia. Wikipedia, The Free Encyclopedia, 16 Apr. 2019. Web. 5 Dec. 2020.

3.      Hahnemann S. Organon da Arte de Curar. Tradução da 6ª Edição alemã. GEHSP Benoit Mure; 5ª Edição Brasileira, 2013.

4.      Broussais, FJV. (1772-1838) System of Physiological Medicine. JAMA. 1969;209(10):1523.


Dengue

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